A disparada do presidente nas intenções de voto deixou muita gente surpresa, até mesmo dentro do PT. Por quê Lula cresceu tanto nas últimas pesquisas, em todos os institutos de consulta? A resposta pode estar em uma outra pergunta: Qual o telejornal mais assistido da tevê brasileira? Nove entre dez pessoas dizem "Jornal Nacional". Uma pequena pesquisa que fiz aponta o número.

O veículo é considerado o noticiário mais tradicional e o mais visto seu segmento. O ibope do programa fica em média em 41 pontos, quase todos os dias, com cerca de 65% dos televisores ligados na Globo. O segundo lugar, geralmente o SBT, fica com 15 pontos na medição, que é feita na Grande São Paulo com cada ponto representando 47 mil aparelhos de televisão.

Mas o que isso tem a ver com a campanha de Lula? Talvez mais do que imaginemos. O alto crescimento do candidato à reeleição pode ter acontecido pelo fato de a propaganda eleitoral no segundo turno interromper o JN. Na primeira fase, ela era transmitida após o telejornal, mas agora, o programa pára por 20 minutos e retorna assim que termina o horário político. Muito mais gente deve estar assistindo a propaganda das campanhas, já que quer ver o restante do telejornal e evita desligar a televisão.

O índice de audiência do horário eleitoral no primeiro turno foi de 42 pontos na estréia e de 33 na média. O índice atual pode estar próximo da marca de audiência do Jornal Nacional, ou seja, de volta à média de 41 pontos Junte-se isso a uma estratégia bem sucedida de forçar a comparação com o governo FHC mais o uso da imagem carismática de Lula entre os mais pobres e a subida acelerada nas pesquisas pode estar explicada.

Além disso, a campanha do atual presidente explica melhor as propostas e usa a tática do "medo" colocando Alckmin como uma dúvida em relação a vários pontos importantes para a população, como as privatizações e os programas sociais. Com mais gente assistindo, isso pode ter sido fatal para Geraldo.

Sem querer, Lula pegou carona na audiência do Jornal Nacional e tal fato parece ter contribuído para abocanhar votos que foram de Heloísa Helena e de Cristovam Buarque e, ainda, alguns milhões que eram de Geraldo Alckmin. O resto ele já tinha garantido.

Se colocar a propaganda política no meio do Jornal Nacional foi intencional ou não, é difícil dizer e eu me recuso a afirmar. Isso, só os responsáveis pela programação da Rede Globo podem afirmar, aliás, o que faço neste artigo é apenas uma especulação sobre o poder do horário nobre e de um programa tão difundido.

Algum dia o "efeito JN" pode até se confirmar na política, hoje ele é no mínimo muito discutido. O que se sabe é que na venda de produtos ele é mais que definitivo. Não é à toa que cada 30 segundos de anúncio publicitário nos intervalos do noticiário valem ouro.